“Exu é o mensageiro dos outros Orixás, e sem ele nada se faz.”
(Pierre Verger, 1999)
“Tá chegando a meia-noite,
Tá chegando à madrugada,
Salve o povo de quimbanda,
Sem Exu não se faz nada.”
(Ponto cantado para Exu de origem desconhecida; muito popular em terreiros de umbanda, quimbanda e alguns de candomblé – Pesquisa de Campo, 2005)
“Nada se faz sem Exu”
(Edson Carneiro, 1972)
Estas citações são alguns exemplos de como Exu é tido como importante dentro de terreiros de umbanda, quimbanda e candomblé espalhados pelo Brasil.
Apesar de ter papéis e significados distintos dentro de cada uma destas manifestações religiosas, Exu, temido e adorado por muitos, é a expressão religiosa e a esperança de solução dos problemas de muitos fiéis e freqüentadores de terreiros em todo o país.
Sua significação é complexa, dependendo de sua origem e em qual religião se manifesta, tem caráter de divindade, mensageiro, protetor, escravo de outras divindades, demônio, espírito inferior e imperfeito.
Na tradição africana, Exu é o princípio dinâmico que permeia tudo, ou seja, dinamiza tudo; Exu é aquele que permite as passagens (inclusive entre a terra e o além), que permite as trocas simbólicas, que leva e traz as comunicações, pois sem ele não há candomblé. Todo ritual, independente de qual for e para qual orixá é
dirigido, é precedido por uma oferenda para Exu, também chamada de despacho.
No jogo oracular dos búzios, é Exu quem leva as perguntas e quem traz as respostas, podendo ser ele mesmo quem responde. É comum se dizer nos candomblés que se o Exu da casa estiver de costas para o terreiro, este não prospera.
Os Exus e pombagiras, geralmente denominados na umbanda “povos de rua”, são utilizados como agentes mágicos de atuação em diversos assuntos do mundo material: dinheiro, relacionamentos, negócios de qualquer natureza, vinganças, trabalhos de ódio, saúde, prosperidade, etc.
Esses “povos de rua”, no caso da umbanda, são espíritos (egún) que já estiveram encarnados e que, quando vivos, eram marginalizados e segregados pela
sociedade abastada, mas que transitavam com facilidade na boemia e em seus meandros, onde entraram em contato com a essência de muitas pessoas e diversos estilos de vida. Seria justamente por conhecer as falhas humanas, seus vícios e virtudes é que quando falecidos, esses espíritos se juntam às “correntes” de Exu.
Em suas relações com os orixás dentro da umbanda, os Exus são tidos como Guardiões de seus mistérios, as vezes confundidos com ‘escravo’ dos orixás e dos guias espirituais (pretos-velhos, caboclos, etc) e funcionariam como verdadeiros soldados protetores do terreiro e das pessoas a ele ligados. Na umbanda, os Exus estarão sempre a esquerda, contrapondo a outra face da moeda: as correntes de direita. Onde as de direita comandam as falanges e desmancham trabalhos maléficos e os de esquerda podem tanto fazer trabalhos maléficos, quanto desmanchá-los. Mas vai depender sempre da denominação umbandista que o
mesmo se manifesta (se for o caso).
Os Exus são amorais, não são nem totalmente bons, nem totalmente maus, podendo desde realizar várias curas, como realizar trabalhos prejudiciais a outras pessoas. Essas características contribuíram com que os Exus fossem identificados com o diabo dos cristãos, e é por isso que vemos nas lojas de artigos religiosos especializados em umbanda aquelas imagens com chifres, rabos pontudos, tridentes, dentes afiados, pés de bode e cabras. Os Exus são constantemente
confundidos com os kiumbas (espíritos inferiores que gostam de praticar o mal), que segundo as estórias perpetuadas pelos terreiros, adquirem qualquer forma e são mistificadores.
Hierarquicamente os Exus estão acima dos kiumbas e abaixo dos guias espirituais e orixás de cada terreiro. Dentro da corrente de Exu, existem várias subcorrentes que são classificadas pelos seus nomes: Exu Tranca-Ruas, Exu Quebra-Galhos, Exu Zé Pelintra, Exu Caveira, Exu do Lodo, Exu Veludo, e mais uma infinidade de nomes. Cada uma destas subcorrentes contém uma infinidade de espíritos que atendem pelo nome genérico de cada entidade. Isto explica o fato de poder existir em um mesmo terreiro, dois ou mais Exus Tranca-Ruas ou Zé Pelintras incorporados. Os trabalhos de culto a Exu dentro dos terreiros de umbanda são
caracterizados de duas maneiras:
1) como giras de Exu (trabalhos em que os exus
incorporam em seus ‘cavalos’)
2) Pontos firmados, oferendas e despachos (trabalhos em que os exus atuam invisivelmente, ou seja, sem a necessidade de incorporação destas entidades).
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