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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A Pinga


Acredito que todos vocês leitores já presenciaram médiuns ou incorporados por certas entidades consumindo cachaça ou utilizando-as nas feituras de firmezas e oferendas. É um elemento assim tal qual o tabaco, muito presente nos terreiros de umbanda.
O uso destes elementos é muito recriminado até mesmo por religiões irmãs, sendo associado ao “baixo espiritismo”, ou seja, espíritos que partiram mas que continuam apegados aos vícios da carne. Criticam, por desconhecerem todo o fundamento que existe por trás de sua utilização e cujas energias são apenas encontradas aqui no plano material. Certas essências por não estarem disponíveis no plano etéreo, necessitam de serem manipuladas pelos guias em terra para que sejam cortadas as demandas em certos trabalhos espirituais.
Saibam que muitas destas entidades há muito tempo, tamanha a sua luz, já não precisariam mais estar neste Plano da Criação, mas optam por aqui permanecerem em virtude dos intensos desejos de amor ao próximo e de praticar a caridade, que adquiriram ao longo de sua evolução.
Mas voltando ao assunto em questão, falar de um dos elementos preferidos daquele Orixá que está mais próximo de nós, remete-nos ao tempo da escravidão durante o Brasil-Colônia. Existem muitas controvérsias sobre a origem da cachaça, no entanto estejam certos de que é um produto genuinamente nacional.  
Diz a história acerca da sua descoberta que um dia escravos a preparar o melado da cana no engenho descuidaram-se, deixando que passasse do ponto, desta maneira estragando-o. Com muito medo que seu erro fosse descoberto acarretando no seu açoitamento no tronco pelo feitor, os escravos esconderam-no.


Escravos trabalhando no engenho

                         No dia seguinte pegaram aquele melado que fermentara durante a noite  e misturaram ao melado novo que estavam preparando.
            Algum tempo depois os escravos notaram que começou a formar gotículas no teto do engenho as quais ficavam pingando sobre os seus corpos. Daí o nome de Pinga. Quando estas gotas caiam sobre as feridas causadas pelas chibatadas nas costas, sentiam um grande ardor. Daí o nome Água Ardente. Este líquido também escorria pelos seus rostos, chegando até as suas bocas e então perceberam que quando o engoliam, ficavam mais alegres. Deste momento em diante começaram a beber para esquecer do frio, da saudade de sua terra natal e do seu pobre destino nas poucas festas que lhes eram permitidas fazer pelos senhores de engenho.
Um dia um senhor de engenho curioso com a bebida que os deixava naquele estado de euforia experimentou a misteriosa bebida e creio que a história de aqui em diante, já pode ser contada por vocês…..


Fonte: Jornal Nacional de Umbanda Ed. 42 - 01/08/2012